sábado, 1 de agosto de 2020

DARWIN E O MOSQUITO

Onório deitou-se. Após poucos minutos, o mosquito começou a zunir em seu ouvido. Então ele colocou o espanta-mosquito, aquele que vai na tomada e esquenta uma pastilha. Para garantir, também colocou, em outra tomada, um aparelhinho que funciona com luz ultravioleta, que atrai e mata os insetos.
“Pronto! Agora tá resolvido”.
Mas não. Enganou-se. Não contava que este mosquito, o único que por ali rondava, por alguma inexplicável razão, não seria espantado pelo cheiro exalado pela pastilha. Algo em seu pequeno organismo garantia esta imunidade, um desvio genético lhe trouxe esta vantagem. E, para a desgraça de Onório, a vantagem também se estendia à ação da outra arma, conectada na outra tomada, pois a luz ultravioleta não exercia influência alguma sobre o enxerido zumbidor alado.
A única influência capaz de atingir o estranho e incomum inseto era a atração que orelha de Onório lhe provocava.
O tempo escoava, embalado pelos zunidos, uma serenata de amor de um mosquito apaixonado por uma orelha.
Imagine se este incomum inseto, acidentalmente dotado de uma genética que lhe garantia uma vantagem competitiva enorme, imagine se, ao procriar-se, passasse estes dotes aos descendentes... Seria o início de uma nova espécie... Um supermosquito! Uma verdadeira proeza da seleção natural de Darwin!
Mas Darwin não contava com a raiva, a explosão e o reflexo de Onório que, agarrando e girando o travesseiro no movimento em arco do braço, estatelou o mosquito na parede, esmagado pela fronha!

Nenhum comentário: