sábado, 12 de abril de 2014

AS INVENÇÕES DO MEU PAI

Tudo que meu pai inventou, bem que daria um livro que, com certeza, teria que ser ilustrado. Pois como faria, sem imagens, para descrever como ficou aquele carro, modelo Maverick, transformado em anfíbio? Sua missão era transportar os moradores do bairro Prosperidade que, naquela época, sujeito à força das enchentes, por muitas vezes virava uma ilha. Ilha Prosperidade...
Lá embaixo o chassi do Maverick, escondido por um tablado de madeira (o convés do navio) que, por sua vez, repousava sobre 13 grandes tambores, cuja finalidade era garantir a flutuação. Em poucas palavras, era assim.
E ficará assim mesmo, com poucas palavras, a descrição desta invenção do meu pai. Isto porque eu, o filho do inventor, inventei uma nova regra para aplicar aos textos deste blog: nenhum deles poderá ter mais que 500 palavras. Tudo em prol do dinamismo apressado de hoje em dia que rejeita textos que não sejam curtos. Assim sendo, as muitas invenções do meu pai terão que ser resumidas. Mas ele (o meu pai) vai gostar bastante disto, contar sobre suas criações em rápidas palavras, pois ele mesmo é um apressado de primeira.
Então vamos lá. Tem a plataforma de pesca, flutuante, feito grande barco redondo, repartida em pequenas suítes que, no formato de fatias de pizza, abrigariam os pescadores e suas famílias ou acompanhantes, fazendo que tudo isto virasse algo que pudesse ser classificado como “plataforma de pesca e hotel flutuante”. Não foi construída, pois o investimento seria muito alto, mas o protótipo sim, foi concretizado, com estrutura básica de concreto mesmo, uma pesadíssima peça com o seu mais de metro de diâmetro e suas dezenas de quilos...
Muitas vezes, o meu pai procura reinventar, da sua maneira, algo que já foi inventado. Foi assim com o aquecedor solar. Sua versão caseira começou mais simples e foi incrementada aos poucos. Inicialmente era somente um encanamento, exposto ao sol e pintado de preto, que dava várias voltas, sobre a laje da lavanderia, antes de entrar para o forro da casa e ligar-se com a parte hidráulica. Com o passar do tempo, esta sua criação foi adquirindo um maior grau de complexidade. Construiu uma câmara de aquecimento, que era um compartimento fechado e coberto por um telhado de vidro, dentro do qual serpenteava o cano que conduzia a água a ser aquecida. Não me lembro muito bem, tenho cenas e sequências de acontecimentos que poderão não condizer com a verdade. Então aqui vai: papel alumínio envolvendo o cano, isopor na base, reservatório d’água sob a serpente de canos, água aquecendo demais, abandono da câmara de aquecimento, abandono do reservatório d’água, volta aos canos pretos sobre a laje da lavanderia...
É isso, pessoal. O texto acaba por aqui, mas as invenções do meu pai não. É material para um livro mesmo... Um livro longo e criativo, como a vida de meu pai, com seus 90 anos, e que promete ainda muitas outras invenções, se Deus quiser.

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